sábado, 30 de abril de 2011

Trem das Cores



(Caetano Veloso) - com Quarteto em Cy

A franja na encosta
Cor de laranja
Capim rosa chá
O mel desses olhos luz
Mel de cor ímpar
O ouro ainda não bem verde da serra
A prata do trem
A lua e a estrela
Anel de turquesa
Os átomos todos dançam
Madruga
Reluz neblina
Crianças cor de romã
Entram no vagão
O oliva da nuvem chumbo
Ficando
Pra trás da manhã
E a seda azul do papel
Que envolve a maçã
As casas tão verde e rosa
Que vão passando ao nos ver passar
Os dois lados da janela
E aquela num tom de azul
Quase inexistente, azul que não há
Azul que é pura memória de algum lugar
Teu cabelo preto
Explícito objeto
Castanhos lábios
Ou pra ser exato
Lábios cor de açaí
E aqui, trem das cores
Sábios projetos:
Tocar na central
E o céu de um azul
Celeste celestial

Subúrbio



(Chico Buarque) - com Moyseis Marques

Lá não tem brisa
Não tem verde-azuis
Não tem frescura nem atrevimento
Lá não figura no mapa
No avesso da montanha, é labirinto
É contra-senha, é cara a tapa
Fala, Penha
Fala, Irajá
Fala, Olaria
Fala, Acari, Vigário Geral
Fala, Piedade
Casas sem cor
Ruas de pó, cidade
Que não se pinta
Que é sem vaidade

Vai, faz ouvir os acordes do choro-canção
Traz as cabrochas e a roda de samba
Dança funk, o rock, forró, pagode,reggae
Teu hip-hop
Fala na língua do rap
Desbanca a outra
A tal que abusa
De ser tão maravilhosa

Lá não tem moças douradas
Expostas, adam nuas
Pelas quebradas teus exus
Não tem turistas
Não sai foto nas revistas
Lá tem Jesus
E está de costas
Fala, Maré
Fala, Madureira
Fala, Pavuna
Fala, Inhaúma
Cordovil, Pilares
Espalha tua voz
Nos arredores
Carrega tua cruz
E os teus tambores

Vai, faz ouvir os acordes do choro-canção
Traz as cabrochas e a roda de samba
Dança funk, o rock, forró, pagode
Teu hip-hop
Fala na língua do rap
Fala no pé
Dá uma idéia
Naquela que te sombreia

Lá não tem claro-escuro
A luz é dura
A chapa é quente
Que futuro tem
Aquela gente toda
Perdi em ti
Eu ando em roda
É pau, é pedra
É fim da linha
É lenha, é fogo, é foda

Fala, Penha
Fala, Irajá
Fala, Encantado, Bangu
Fala, Realengo...

Fala, Maré
Fala, Madureira
Fala, Meriti, Nova Iguaçu
Fala, Paciência..

Clareou



(Moacyr Luz e Ivan Lins) - com Moacyr Luz e Ivan Lins


Meu amor não chora não
Não chora meu amor...
A chuva não demora, amor, já desanuviu
Meu amor não chora não
Mau tempo já passou
Sol de toda hora, amor
Agora clareou no mar...
Clareou no mar...
Clareou no mar...

Diz um jeito bom de te acalmar
Brisa leve... um pouco mais de ar
Meu amor... a chuva vai parar
Clareou no mar...
Se clareou no mar...
Ela vai passar
Clareou

Meu amor não chora não
Não chora meu amor...
A chuva não demora, amor, já desanuviu
Meu amor não chora não
Mau tempo já passou
Sol de toda hora, amor
Agora clareou no mar...
Clareou no mar...
Clareou no mar...

sexta-feira, 29 de abril de 2011

O Barco e o Mar


(André de Souza) - com Mateus Sartori

Mar raivoso levou amor
Nas turvas águas da tempestade
Eu vou de barco a procurar
Manhã bem cedo maré alta
Horizonte a me chamar

Mar revolto levou a fé
Deixou no peito tua saudade
Eu vou de barco a te buscar
Por entre as ondas; ilhas; rochas
Dias, noites velejar...

Sob as águas dança um rosto mulher
Sereno, tranquilo...

Barco a vela... tira o meu amor do mar
Mostra a ela o meu cantar

Mar revolto levou a fé
Deixou no peito tua saudade
Eu vou de barco a te buscar
Por entre as ondas; ilhas; rochas
Dias, noites velejar...

Sob as águas dança um rosto mulher
Sereno, tranquilo...

Barco a vela... tira o meu amor do mar
Mostra a ela o meu cantar

Seu Barbosa



(Paulo Vanzolini) - com Ana Bernardo

Ô, Seu Barbosa, nóis era dois casado certo
Morando num bairro longe, mas passando ônibus perto
Uma vista tão linda, de cima do nosso morro
E as crianças precisando de um pronto-socorro - só uma hora dali

Eu e Marli, vivia satisfeito
O que fizeram com nóis, seu Barbosa, não está direito

O pivô do enguiço foi um gato
Pertencente um cidadão, por nome de Rubinato
O miau sumiu, e ele botou o dedo "ni mim"
Só porque me viu, encourando um tamborim

Foi na delegacia, se acertou com o escrivão
Já no outro dia recebi intimação
Mas eu vou lá, quem não deve não dá bola
Eu provo que o tamborim eu fiz com o gato da espanhola

Seu Rubinato, vou lhe dar um bom conselho:
Você arranja outro gato e a Marli lhe ensina a fazer coelho.

Baile de Máscaras




(Márcio Faraco) - com Márcio Faraco

Eu passo, recolho da rua minha vida, meu deus
Eu vejo, está ali pra quem quiser ver
Eu creio, eu invento e tento não enlouquecer

Eu vim pra confundir
Pra dividir o seu olhar
Eu vim pra distrair sua atenção

Você só precisa de um momento sem razão
Eu sei que agora está se perguntando
Quem é esse cara
Que pensa que sabe
Que acha que pode adivinhar ?

Eu vim pra confundir
Estou onde não há
Eu sou o que suponho existir
Eu sou o que imagino poder

Enquanto mil outras pessoas
São o que querem que pensem
Eu passo recolho da rua minha vida, meu deus
Eu passo recolho da rua minha vida, meu deus

Estrada do Sertão



(João Pernambuco E Hermínio Bello De Carvalho) - com Nilson Chaves

Coisa que não arrenego
nem tão pouco desapega
ter gostado de você
foi gostar desenchavido
encruado e recolhido
de ninguém se aperceber

Matutando vou na estrada
nos meus óios a passarada
faz um ninho pra você
juriti espreita triste
a jandaia não resiste
chora junto por você

Nos teus óios faz clarão
é um verde, um azulão
tiê sangue furta cor
que me dá desassossego
que me suga que nem morcego,
mangando que é beija-flor

Não me encrespe a vida assim
já me basta o que de mim essa vida caçoou
não me faz essa graçola
de me abrir essa gaiola
pra depois não me prender.

Canta firme juriti
vê se entoa uma canção
sabiá me roça aqui
bem junto do meu coração
pousa aqui meu colibri
vê se tu tem pena d´eu
quero ser teu bacuri
quero ser de vóis meçê

Quanto mais me desfeiteia,
me despreza, mais me arrasto pra você.

Caçada da Onça



(Flávio Henrique e Dado Prates) - com Amaranto

Noite clara, céu azul
No horizonte a cruz do sul
Vê a toca, tá vazia
É hora da feira
Leva a cartucheira que chumbo tem
Prepara a zagaia que o dia envém
O laço de arraia leva também
Lá na capoeira tem mais de cem
Pixuna na moita de gravatá
Pintada no alto do jatobá

Onça braba, marruá
Mia grosso até raiar
Lambe a pata, mostra o dente
Devora a presa

Tocaia a tigresa que hoje tem
Tem festa na roça que a bicha envém
Na testa é que é bom
Na boca também
A pele ilesa dá mais de cem
Couro de pinima é bom pra esquentar
Couro de onça preta só dá azar

Olha a morte espreitando na curva
Olha o raio
Olha o dia que não vai chegar

Canguçu, sussuarana, jaguaretê
Malha larga, lombo preto, olho de dendê
Encurva o rabo
Mede o bote
Mira no cangote pra se defender

A Mais Bonita



(Chico Buarque) - Com Bebel Gilberto e Chico Buarque

Não, solidão, hoje não quero me retocar
Nesse salão de tristeza onde as outras penteiam mágoas
Deixo que as águas invadam meu rosto
Gosto de me ver chorar
Finjo que estão me vendo
Eu preciso me mostrar

Bonita
Pra que os olhos do meu bem
Não olhem mais ninguém
Quando eu me revelar
Da forma mais bonita
Pra saber como levar todos
Os desejos que ele tem
Ao me ver passar
Bonita
Hoje eu arrasei
Na casa de espelhos
Espalho os meus rostos
E finjo que finjo que finjo
Que não sei

Boca da Noite



(Toquinho e Paulo Vanzolini) - Com Márcia

Cheguei na boca da noite, parti de madrugada
Eu não disse que ficava nem você perguntou nada
Na hora que eu ia indo, dormia tão descansada,
Respiração tão macia, morena nem parecia
Que a fronha estava molhada
Vi um rosto na janela, parei na beira da estrada
Cheguei na boca da noite, saí de madrugada

Gente da nossa estampa não pede juras nem faz
Ama e passa, e não demonstra sua guerra, sua paz
Quando o galo me chamou, eu parti sem olhar pra trás
Porque, morena, eu sabia, se olhasse, não conseguia
Sair dali nunca mais

O vento vai pra onde quer, a água corre pro mar
Nuvem alta em mão de vento é o jeito da água voltar
Morena, se acaso um dia tempestade te apanhar
Não foge da ventania, da chuva que rodopia,
Sou eu mesmo a te abraçar