sexta-feira, 22 de julho de 2011

A Fábula do Riacho


(Simone Guimarães e Cristina Saraiva) - Simone Guimarães

Se você quiser
Eu te levo pra um reino distante
E te mostro que lá adiante
Por detrás dessa mata
Há um riacho de água clara
E que quando a lua
Em noite escura é prata
Mas se a noite é de medo e procura
Nos vem com doçura
Levar a tristeza
Mostrar a beleza
De um peito em flor
E nos faz correnteza
Nas águas estranhas do amor
Então com brandura
Nos faz cometer a loucura

Há flores diversas
Que o vento dispersa
Num chão de aquarela
Estrada mais bela
Que apenas te espera
Se você quiser

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Maura


(Oswaldo Melodia) - Luiz Melodia

Ô Maura
Vem matar minha saudade
Não tenho felicidade
Desde o dia em que me abandonou
O meu prazer
É viver embriagado
Só assim esse coitado
Não recorda o que passou

Tu não te lembras
Da nossa felicidade
Ao princípio da amizade
Nosso amor era uma flor
Hoje só resta
Para minha grande mágoa
Os meus olhos rasos d'água
Nunca mais se enxugou

Quem é Cover de Quem


(Itamar Assumpção) - Itamar Assumpção

Nasceste no Rio Estácio e eu em São Paulo Tietê
Os nossos passos com passos afirmam ter tudo a ver
Não só na tonalidade e também no jeitão de ser
Circula pela cidade
Circula pela cidade
que sou cover de você

Tu és pérola negra já desde setenta e dois
Eu inventei Beleleú só oito anos depois
Além deste pela preta coisa comum em nós dois
Idéias, músicas, letras
Idéias, músicas, letras
não são só feijão com arroz

Dizem formamos de fato um belo par de malditos
Te chamam de Negro Gato me tratam de Nego Dito
E já que talento é inato isto tudo estava escrito
Num mundo cheio de chatos
Num mundo cheio de chatos
Até que somos São Beneditos

No mais sambamos de tudo
Funk; soul; blues; jazz; rock and roll
Trocamos tudo em miúdos gravamos num disc show
Paixão amor sobretudo aquele que começou
Mais grave ou mais agudo
Mais grave ou mais agudo
slow speed or speed slow

Só falta agora contar o que que houve outro dia
Assim que entrei num bar desses de periferia
Alguém começou gritar jurou que me conhecia
Mais no lugar de Itamar
Mais no lugar de Itamar
disparou Luiz Melodia

Então por essas e outras que vamos contemporâneos
Compositor tão ilustre, tão bom ser teu conterrâneo
Tu abres eu fecho a boca já há mais de vinte anos
Então baby não se assuste
Então baby não se assuste
pérola negra eu te amo

Eu Vou Tirar Você do Dicionário


(Itamar Assumpção) - Zélia Duncan

Eu vou tirar do dicionário
A palavra você
Vou trocá-la em miúdos
Mudar meu vocabulário
E no seu lugar
Vou colocar outro absurdo
Eu vou tirar suas impressões digitais
Da minha pele
Tirar seu cheiro
Dos meus lençóis
O seu rosto do meu gosto

Eu vou tirar você de letra
Nem que tenha que inventar
Outra gramática
Eu vou tirar você de mim
Assim que descobrir
Com quantos "nãos" se faz um sim

Eu vou tirar o sentimento
Do meu pensamento
Sua imagem e semelhança
Vou parar o movimento
A qualquer momento
Procurar outra lembrança
Eu vou tirar, vou limar de vez sua voz
Dos meus ouvidos
Eu vou tirar você e eu de nós
O dito pelo não tido

Eu vou tirar você de letra
Nem que tenha que inventar
Outra gramática
Eu vou tirar você de mim
Assim que descobrir
Com quantos "nãos" se faz um sim

Bonito


(Ivan Lins e Vitor Martins) - Ivan Lins

Podia ser um fox-trot
Até mesmo mais um rock
Até porque nunca pintou de minha parte
O preconceito, o despeito
O disparate, a intelorância
Quero distância
De quem pensa assim de mim
Eu quero todo o meu direito
E o que preciso
Pois simplesmente não resisto ao bonito
Quero o sorriso da Iara e suas rosas
Correndo as mesas
Pelas noites da cidade
Tão maravilhosa

Não é saudade
Nem por falta de caminho
Querer a flauta
O violão e o cavaquinho
Caminho a gente faz
Saudade a gente mata
Ou então descarta
Suporta
E fim

Sou mais Portela
Com a cabeça do Paulinho
Sou mais Elis
Ainda que depois da porta
Sou mais Aldir e o bom Bosco
Para sempre, para sempre
O Nazaré, o Radamés e o Jobim
Sou mais a noite
Com a Leny e o Luis Eça
Depois um chopp geladinho
E pouca pressa

Um Sonho


(Gilberto Gil) - Gilberto Gil

Eu tive um sonho
Que eu estava certo dia
Num congresso mundial
Discutindo economia
Argumentava
Em favor de mais trabalho
Mais emprego, mais esforço
Mais controle, mais-valia
Falei de pólos
Industriais, de energia
Demonstrei de mil maneiras
Como que um país crescia
E me bati
Pela pujança econômica
Baseada na tônica
Da tecnologia
Apresentei
Estatísticas e gráficos
Demonstrando os maléficos
Efeitos da teoria
Principalmente
A do lazer, do descanso
Da ampliação do espaço
Cultural da poesia
Disse por fim
Para todos os presentes
Que um país só vai pra frente
Se trabalhar todo dia
Estava certo
De que tudo o que eu dizia
Representava a verdade
Pra todo mundo que ouvia
Foi quando um velho
Levantou-se da cadeira
E saiu assoviando
Uma triste melodia
Que parecia
Um prelúdio bachiano
Um frevo pernambucano
Um choro do Pixinguinha
E no salão
Todas as bocas sorriram
Todos os olhos me olharam
Todos os homens saíram
Um por um
Um por um
Um por um
Um por um
Fiquei ali
Naquele salão vazio
De repente senti frio
Reparei: estava nu
Me despertei
Assustado e ainda tonto
Me levantei e fui de pronto
Pra calçada ver o céu azul
E os estudantes
E operários que passavam
Davam risada e gritavam:
Viva o índio do Xingu!
Viva o índio do Xingu!
Viva o índio do Xingu!
Viva o índio do Xingu!
Viva o índio do Xingu!

A Cara do Brasil


(Celso Viáfora, Vicente Barreto) - Celso Viáfora

Eu estava esparramado na rede
jeca urbanóide de papo pro ar
me bateu a pergunta, meio à esmo:
na verdade, o Brasil o que será?
O Brasil é o homem que tem sede
ou o que vive da seca do sertão?
Ou será que o Brasil dos dois é o mesmo
o que vai é o que vem na contra-mão?

O Brasil é um caboclo sem dinheiro
procurando o doutor nalgum lugar
ou será o professor Darcy Ribeiro
que fugiu do hospital pra se tratar

A gente é torto igual Garrincha e Aleijadinho
Ninguém precisa consertar
Se não der certo a gente se virar sozinho
decerto então nunca vai dar


O Brasil é o que tem talher de prata
ou aquele que só come com a mão?
Ou será que o Brasil é o que não come
o Brasil gordo na contradição?
O Brasil que bate tambor de lata
ou que bate carteira na estação?
O Brasil é o lixo que consome
ou tem nele o maná da criação?

Brasil Mauro Silva, Dunga e Zinho
que é o Brasil zero a zero e campeão
ou o Brasil que parou pelo caminho:
Zico, Sócrates, Júnior e Falcão

A gente é torto igual Garrincha e Aleijadinho...

O Brasil é uma foto do Betinho
ou um vídeo da Favela Naval?
São os Trens da Alegria de Brasília
ou os trens de subúrbio da Central?
Brasil-globo de Roberto Marinho?
Brasil-bairro: Carlinhos-Candeal?
Quem vê, do Vidigal, o mar e as ilhas
ou quem das ilhas vê o Vidigal?

O Brasil encharcado, palafita?
Seco açude sangrado, chapadão?
Ou será que é uma Avenida Paulista?
Qual a cara da cara da nação?

A gente é torto igual Garrincha e Aleijadinho ...

Aguapé


(Edmundo Souto e Paulinho Tapajós) - Simone Guimarães
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Lá do outro lado do arvoredo
Vive o meu amor escondido
Um passarinho contou

Voa sabiá vá encontrar
Meu bem querer vá lá dizer
Meu bem-te-vi longe daqui
Sou curió cantando só
Uirapurú do Pajeú
Sem um xodó num cafundó
Volta prá aqui meu colibri

Lembra do fubá do gravatá
Do cangerê do Pererê
Do jaboti do Guarani
Do bororó do mocotó
Do meu bambú do babaçú
De Marajó do Tororó
Jamais te vi meu colibri

Lembra do cajá do butiá
Do aguapé pé de café
Da juriti do açaí
Do abricó de Mossoró
Do inhambú mandacarú
Do pão de ló nó de jiló
Volta pra aqui meu bem-te-vi

Tenho um ninho guardado
Para o meu namorado
Deixei lá em segredo
Porque ainda era cedo
Aguardando o pedido
Tenho um ninho escondido
Ele vive guardado
Pra você me guardar

Passarim


(Antonio Carlos Jobim / Paulo Jobim) - com Tom Jobim

Passarim quis pousar, não deu, voou
Porque o tiro partiu mas não pegou
Passarinho, me conta, então me diz:
Por que que eu também não fui feliz?
Me diz o que eu faço da paixão?
Que me devora o coração..
Que me devora o coração..
Que me maltrata o coração..
Que me maltrata o coração..

E o mato que é bom, o fogo queimou
Cadê o fogo? A água apagou
E cadê a água? O boi bebeu
Cadê o amor? O gato comeu
E a cinza se espalhou
E a chuva carregou
Cadê meu amor que o vento levou?
(Passarim quis pousar, não deu, voou)

Passarim quis pousar, não deu, voou
Porque o tiro feriu mas não matou
Passarinho, me conta, então me diz:
Por que que eu também não fui feliz?
Cadê meu amor, minha canção?
Que me alegrava o coração..
Que me alegrava o coração..
Que iluminava o coração..
Que iluminava a escuridão..

Cadê meu caminho? A água levou
Cadê meu rastro? A chuva apagou
E a minha casa? O rio carregou
E o meu amor me abandonou
Voou, voou, voou
Voou, voou, voou
E passou o tempo e o vento levou

Passarim quis pousar, não deu, voou
Porque o tiro feriu mas não matou
Passarinho, me conta então, me diz:
Por que que eu também não fui feliz?
Cadê meu amor, minha canção?
Que me alegrava o coração..
Que me alegrava o coração..
Que iluminava o coração..
Que iluminava a escuridão..
E a luz da manhã? O dia queimou
Cadê o dia? Envelheceu
E a tarde caiu e o sol morreu
E de repente escureceu
E a lua, então, brilhou
Depois sumiu no breu
E ficou tão frio que amanheceu
(Passarim quis pousar, não deu, voou)
Passarim quis pousar não deu
Voou, voou, voou, voou, voou

Todo Azul do Mar


(Flávio Venturini E Ronaldo Bastos) - com Beto Guedes e Roupa Nova

Foi assim, como ver o mar
A primeira vez que meus olhos se viram no seu olhar
Não tive a intenção de me apaixonar
Mera distração e já era momento de se gostar

Quando eu dei por mim nem tentei fugir
Do visgo que me prendeu dentro do seu olhar
Quando eu mergulhei no azul do mar
Sabia que era amor e vinha pra ficar

Daria pra pintar todo azul do céu
Dava pra encher o universo da vida que eu quis pra mim

Tu...do que eu fiz foi me confessar
Escravo do seu amor, livre pra amar
Quando eu mergulhei fundo nesse olhar
Fui dono do mar azul, de todo azul do mar

Foi assim, como ver o mar
Foi a primeira vez que eu vi o mar
Onda azul, todo azul do mar
Daria pra beber todo azul do mar
Foi quando mergulhei no azul do mar